Mais do que um lugar de descanso para aqueles que já se foram, os cemitérios de Campinas são uma fonte de história, memória e arte do município. Preservar esse patrimônio significa salvaguardar cemitérios históricos e a arte cemiterial, sítios arqueológicos com vestígios de enterramentos, ritos e objetos utilizados nos rituais de passagem, enfim, tudo o que possa ajudar a contar ou entender a história de uma sociedade. Com isso em mente, o vereador Luiz Rossini (Republicanos) protocolou na Câmara Municipal de Campinas um Projeto de Lei que cria o Dia Municipal do Patrimônio Cultural Funerário de Campinas.
“A proposta é que este dia seja celebrado anualmente em 7 de fevereiro, data da inauguração oficial, em 1881, do Cemitério da Saudade, um dos mais importantes do Brasil e que incorpora cinco outros cemitérios particulares localizados em seus arredores. Fazem parte do que pode ser considerado o ‘complexo Saudade’ o Cemitério São José, o São Miguel e Almas, o Cura D`Ars, o Venerável da 3ª Ordem do Carmo e o da Irmandade do Santíssimo Sacramento, no qual estão sepultadas inúmeras personalidades da história de Campinas”, pontua Rossini, que é presidente do Legislativo.
Na proposição, o vereador destaca que os cemitérios da cidade são territórios que possuem muitas histórias ligadas às circunscrições próprias e às biografias dos sepultados. Também se constituem como espaços de múltiplos significados e “guardiões” de acervos que precisam ser cuidados e preservados. Ele cita a pesquisadora e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec), Elisiana Trilha Castro, que diz: “Definir o que é patrimônio cultural funerário é atribuir significados, aprender saberes e selecionar elementos, lugares, conhecimentos merecedores de preservação para as futuras gerações, ou seja, dignas de se transformarem numa espécie de herança.”
Na justificativa, Rossini enfatiza que “é justamente neste sentido que a implementação de um dia para celebrar a importância do patrimônio cultural funerário é extremamente relevante, até mesmo no cenário nacional, para se pensar práticas e estratégias voltadas para esta categoria de bem cultural ainda pouco representado nas ações de preservação dos órgãos de proteção ao patrimônio em seus diferentes âmbitos e esferas.”.
Desta forma, acrescenta, a criação do Dia do Patrimônio Cultura Funerário de Campinas tem como objetivos valorizar a cultura e história; pensar a preservação dos cemitérios e dos registros da memória individual e coletiva que eles contêm; fortalecer estudos e pesquisas; e promover o respeito às práticas culturais e à conscientização sobre a importância da preservação ambiental.
“Além disso, também se trata de promover o envolvimento da sociedade e estimular o turismo cemiterial: muitos cemitérios possuem túmulos e monumentos que atraem turistas interessados em história e cultura. Já existe uma série de atividades em cemitérios com viés turístico e pedagógico pelo Brasil e pelo mundo, inclusive aqui em Campinas. Aliás, a ideia de propor esta data surgiu em contato com o projeto ‘O que te assombra’, realizado aqui em nossa cidade”, revela.
Realizado com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, o “O que te assombra” tem como foco contar histórias da cidade, algumas até de natureza sobrenatural, explorando as riquezas históricas e culturais do Cemitério da Saudade. Para isso, são promovidas tours – noturnas e gratuitas – pelo local, com cerca de 2h30 de duração.
Nelas, os participantes percorrem cerca de quatro quilômetros nos quais são apresentados tanto à arte cemiterial quanto a histórias de assombração – registradas no livro “Muito Além da Saudade”, de Élcio Henrique Ramos – quanto de personalidades de Campinas que foram sepultadas no local, como Francisco Glicério, Mário Gatti, Vieira Bueno e Hércules Florence, um dos inventores da fotografia.
O projeto está tramitando na Comissão de Educação e Esportes para exarar parecer. Após as análises desta e de outras comissões permanentes da Casa pertinentes ao tema, estará apto para ir à votação em Plenário pelos demais vereadores. Em sendo aprovado, será encaminhado para sanção do prefeito municipal para se tornar lei.