Representantes de moradores de rua, presentes na oitava reunião da Comissão Especial de Estudos sobre a População em Situação de Rua, relataram o drama e as angustias de quem vive nessa condição, bem como solicitaram o aumento dos serviços oferecidos pelo poder público.

Rogério Alves Pacheco, coordenador municipal do Movimento Nacional da População de Rua, contou como foi obrigado por questões financeiras e familiares a morar nas ruas. “É muita solidão. Temos vergonha de ser gente. Sentimos uma indiferença completa por parte da sociedade. Nossa autoestima vai lá para baixo. E muita gente acaba consumindo álcool ou entorpecentes para se aquecer”, contou ele, que foi morador de rua e hoje dorme em um dos abrigos municipais.

Presente na reunião, o morador de rua Paulo Victor Bessa Silva fez um depoimento dramático e comovente sobre a vida nas ruas. Ele perdeu o emprego e a relação afetiva com a família, e sem opção foi morar próximo às paredes da Catedral de Campinas. “Vivemos sob o olhar do desprezo. É uma humilhação diária. As drogas ajudam a pessoa a se livrar da dura realidade do dia a dia. Não precisamos só de comida, mas sim de dignidade”, desabafou.

Eles elogiaram os serviços de saúde e de assistência social prestados pela prefeitura, e além de pedir mais equipamentos públicos, fizeram propostas no sentido de melhorar o atendimento. Entre as propostas estão o reordenamento e a ampliação do Samim (Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante), de acordo com a resolução 109/09, que tipifica o atendimento para 50 pessoas com quartos com 4 pessoas, e de mais um Centro Pop. “As políticas públicas têm de estar condizentes com as normas vigentes”, disse José Humberto Soares, militante do Movimento da População de Rua e assistente social da Política de Assistência Social de Campinas.

Outra reivindicação foi a instalação de uma unidade do Caps (Centro de Atenção Psicossocial), serviço de saúde de caráter aberto e comunitário que atua prioritariamente no atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, no centro da cidade.

José Humberto Soares também pediu um estudo sobre a viabilidade de um refeitório comunitário para a elaboração da comida servida por entidades assistenciais aos moradores de rua. “Temos de pensar na higiene dos alimentos e no preparo”, afirmou.

Voltou a ser discutida nessa reunião a necessidade urgente de um banheiro público na região central para atender, não só o morador de rua, mas também toda a população. “Só nos resta as paredes para fazermos as nossas necessidade básicas”, emendou Paulo Victor Bessa Silva.

Também reivindicaram um espaço que sirva para os moradores de rua deixarem seus pertences. Chamados de “maleiros” ou “bagageiros” esses lugares ajudariam os moradores de rua a guardar roupas e colchões. “Muitos cobertores são levados dos caminhões do cata-treco”, reclamou Rogério Alves Pacheco.

Eles ainda sugeriram o aumento da verba para a política de intercâmbio para compra de passagens para pessoas que desejam voltar para sua cidade de origem e a implantação de um programa de locação social para ajudar viabilizar a moradia ao morador de rua.

A Comissão ainda recebeu do Movimento Nacional da População em Situação de Rua uma carta pedindo que a Prefeitura de Campinas inclua a participação de representantes da sociedade civil no Comitê Intersetorial de Atenção à População de Rua.

“Hoje foi um dia muito produtivo. Recebemos vários relatos e sugestões que, com certeza, estarão inseridas no relatório final”, finalizou o vereador Luiz Rossini (PV), presidente da Comissão. Estiveram presentes na reunião o vereador Aílton da Farmácia (PSD), Carlinhos Camelô (PCdoB) e Carlão do PT.