Presentes no primeiro debate público do projeto de lei que institui a obrigatoriedade de todos os jogos de futebol profissional serem organizados com reserva de espaço comum para torcedores de times adversários assistirem juntos a partida, Guarani e Ponte Preta apresentaram sugestões para serem incluídas no texto da legislação e relataram dificuldades estruturais nos estádios para a implantação imediata da torcida mista em Campinas.
Além disso, o Red Bull Brasil se colocou à disposição da Federação Paulista de Futebol e da Polícia Militar para servir de projeto “piloto” para realizar partidas com torcedores adversários em um mesmo espaço.
Tanto Luiz Carlos Rossini (PV) quanto Luiz Henrique Cirilo (PSDB), autores da proposta, avaliaram de forma positiva o debate público, pois o encontro serviu para aprofundar os estudos para viabilizar o projeto em Campinas. “O princípio é nobre”, defendeu Cirilo. “Precisamos propor medidas que acabem com a violência nas cidades”, disse Rossini.
Os clubes valorizaram a iniciativa do projeto por proporcionar a possibilidade da mudança de comportamento dos torcedores, bem como a possibilidade de atrair a família de volta aos estádios que se afastou por causa da briga entre torcidas.
Para viabilizar o tramite do projeto de lei, Palmeron Mendes Filho, presidente do Conselho Fiscal do Guarani, sugeriu a retirada do termo “obrigatório” para “facultativo” aos clubes a criação do espaço para evitar a penalidade pecuniária ou suspensão de alvará em caso de eventual infração pelo não cumprimento da lei.
Outra proposta surgida foi a inclusão de um artigo no texto que incentive de forma voluntária o clube a fazer reserva do espaço com uma eventual compensação tributária por parte do público.
Dificuldades estruturais
A principal dificuldade que Guarani e Ponte Preta veem no projeto é a adaptação dos estádios para abrigar torcidas adversárias em um espaço único. O Brinco de Ouro e o Moisés Lucarelli precisariam de reformas estruturais em relação a novos portões de entrada e saída e uma readequação nos setores das arquibancadas.
“Hoje os recursos são escassos. Toda a reforma implica em gastos. Além disso, se criarmos um novo setor a capacidade do nosso estádio irá diminuir ainda mais, o que provocaria uma queda na arrecadação”, comentou Sérgio Lattaro, diretor de Patrimônio da Ponte Preta. “Também precisaríamos de um novo espaço com áreas de dispersão, banheiros e lanchonete”, reforçou Marcelo Tasso, superintendente executivo do Guarani.
Rivalidade e segurança
Os diretores também mostraram algum tipo de preocupação em relação à rivalidade. “Vivemos em um momento de tensão”, afirmou Reginaldo Jesus, advogado da Ponte Preta, em acordo com nota oficial encaminhada por Sérgio Carnielli, presidente de honra da Ponte, à Câmara de Campinas.
O capitão Alexandre Rodrigues Cabrera, do Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar, também presente no debate, reforçou a ideia de que os estádios precisam de reformulações até mesmo para atender todos os atuais artigos do Estatuto de Defesa do Torcedor, como equipamentos de monitoramento e controle. Em relação às torcidas mistas, o capitão alertou sobre a elaboração de um plano de ação que envolva não só o espaço na arquibancada, mas também para a chegada do torcedor aos estádios.
Piloto
Como caçula dos times de Campinas com apenas sete anos de existência, e com uma realidade diferente dos clubes centenários de Campinas, a direção do Red Bull Brasil apoiou integralmente o projeto e se colocou à disposição para fazer testes em seus jogos com a presença de torcida mista durante seus jogos. “Queremos fazer essa experiência. Temos absoluta certeza que a proposta é viável”, sacramentou Rodolfo Kussarev Júnior, presidente do Red Bull Brasil. “Pelo bem do futebol brasileiro, os estádios têm de absorver essa demanda da torcida mista”, finalizou Andrey Centenário Soares Cabral, diretor de Comunicação e Marketing do Red Bull.
Com esse princípio em mente, os diretores do Guarani e da Ponte Preta prometeram levar para apreciação de seus presidentes propostas de engenharia que contemplem um espaço único para torcida mista na futuras arenas que os dois times pretendem construir em Campinas.
Vale lembrar que a propositura vai além dos limites dos tradicionais times de Campinas. Tanto no famoso derby entre Guarani e Ponte Preta, quanto nos jogos contra o Red Bull, o projeto permite a reserva de lugares para o mesmo fim em jogos dos clubes de Campinas contra times de fora, como Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e até agremiações de outros estados.
Agora os vereadores querem continuar a debater a proposta, ouvindo representantes da Federação Paulista de Futebol, do Ministério Público, das torcidas organizadas e da imprensa especializada em esporte de Campinas.