Em artigo publicado na edição do dia 15 de maio de 2020 do jornal Correio Popular Rossini faz uma reflexão sobre o processo de retorno à normalidade pós-pandemia.
Incertezas geram ansiedade sempre, e num cenário de pandemia como este que estamos vivendo, mais ainda. A rápida evolução da contaminação pelo novo coronavírus é assustadora, assim como suas consequências. O número de mortes em todo o planeta é crescente e o esforço da classe científica de encontrar meios de combater o vírus e tratar dos doentes, beira o desespero.
Os cenários e as previsões do mundo pós-pandemia não são nada animadores, tanto do ponto de vista econômico quanto de saúde pública. No Brasil, a situação não é diferente e para piorar há o “negacionismo” estimulado por lideranças políticas, um problema adicional, que gera um verdadeiro pandemônio político totalmente desnecessário e moralmente condenável, que provoca instabilidade nas relações entre os poderes e cria uma enorme confusão na cabeça das pessoas.
Crer ou não crer no perigo da doença e na necessidade de ficar em casa? O que é mais importante: salvar vidas ou empregos? Usar ou não usar máscaras? Essas são falsas questões que ocupam as redes sociais, desfocam o debate e distorcem a compreensão da realidade.
O vírus, uma proteína envolvida numa capa de gordura, sequer tem vontade própria. Portanto, a disseminação se dá pela ação do homem, pelo contato entre pessoas e objetos tocados pelas mesmas, sejam elas de direita, de esquerda, ricas, pobres, assalariados ou empresários.
O isolamento social é a única “vacina” que dispomos nesse momento. Ideologizar o enfrentamento da pandemia é inoportuno, para não dizer irresponsável, e terá consequências históricas para os que fizerem essa aposta. Flertar com a morte é inaceitável, por mais insondáveis que sejam as intenções das vozes discordantes da ciência. Portanto, não nos resta outra escolha senão buscar respostas para cada uma das crises instaladas: sanitária, econômica e política.
É consenso em todos os países atingidos pelo coronavírus que salvar vidas é a prioridade urgente, o que torna o processo ainda mais complexo e difícil, uma vez que a circulação e o comportamento do novo coronavírus estão sendo experimentados pela primeira vez. Enfim, tudo é novo, também, para a ciência.
Nesse sentido, vale lembrar aquela máxima do pensamento ambientalista “pensar globalmente e agir localmente”. O problema é o mesmo em todo o planeta, mas se manifesta diferentemente em função da realidade de cada país ou região.
Campinas agiu rápido, implantou o isolamento social, editou decretos, priorizou a informação, conscientizou a população e mobilizou esforços para equipar o sistema de saúde e adequá-lo para receber os pacientes. Enfim, preparou-se para a guerra. Importante frisar o comprometimento e o engajamento dos profissionais de saúde e de outros setores de atividades no enfrentamento da pandemia.
O Comitê de Monitoramento da Covid-19, que acompanha diariamente, hora a hora, os indicadores que medem sua evolução no município de Campinas – com olhos, também, para a Região Metropolitana – elaborou um Plano de Ação para o enfrentamento da pandemia e apontou diretrizes para a flexibilização gradativa da chamada quarentena, tão esperada e reclamada por todos os setores da economia, que foram terrivelmente impactados pela crise.
Mas sair dessa situação e retomar a normalidade de nossas vidas não será algo tão simples e fácil, diante das incertezas e do risco de adoção de medidas fora do tempo certo, que podem ter consequências ainda piores.
Então, como recuperar as perdas materiais e superar as emocionais que estamos vivenciando. O poder de recuperação da economia local é limitado; precisa ser alimentado e potencializado por medidas econômicas emanadas do Governo Federal, que quero crer estão sendo estruturadas. A união de esforços de todos os entes da federação é necessária, mas depende da harmonização da relação entre os poderes da República e, principalmente, da compreensão da classe política. Esqueçam as eleições, por enquanto.
Diante desse cenário nebuloso, penso que será inevitável celebrarmos um novo pacto de convivência, baseado numa nova ética social, na qual poder público, setor empresarial, classe trabalhadora, igrejas e instituições terão de assumir novos compromissos e adotar novos comportamentos, durante e depois desse período de transição. Não precisamos de nenhum messias, nem queremos agir como bobos da corte. Precisamos de atitudes sérias, desprovidas de sentimento de ódio, de revanchismos e egocentrismos. Precisamos acreditar na ciência, que também é uma forma de acreditar em Deus.