Em artigo publicado na edição do dia 14 de abril de 2020 do jornal Correio Popular, Rossini faz uma análise da atual situação em que vivemos, decorrente da pandemia do novo coronavírus. Leia a íntegra do artigo.
Vivemos um momento de perplexidade. Acho que é a palavra mais apropriada para descrever o sentimento reinante em todo planeta.
Um vírus, visível apenas em microscópio, expôs a fragilidade do ser humano ao contaminar indistintamente ricos, pobres, autoridades e cidadãos comuns de todas as raças, credos, condições sociais e idades. É cedo para fazer balanços ou avaliar as consequências da pandemia na sociedade, na economia e nas relações entre os povos, porque o vírus ainda não cumpriu seu ciclo e a ciência não descobriu uma forma de contê-lo, seja com a tão esperada vacina, ou com remédios eficazes para o tratamento dos infectados.
De certa forma, isso nos torna iguais, ou como se diz no popular, “estamos no mesmo barco”. Infelizmente isso não é verdade. Estamos, sim, todos sujeitos a contrair o vírus, mas os “barcos” são muitos, de todos os tamanhos e tipos e com diferenças gritantes no que diz respeito às condições de fazer essa travessia. Os grandes centros urbanos com alta concentração de pessoas, os menos favorecidos sem acesso a saneamento e sem recursos materiais ou financeiros, com certeza sofrerão mais. Os idosos e portadores de doenças tidas até agora como “comuns” para o sistema de saúde, virão a óbito em maior número.
Esse quadro nos impõe a responsabilidade de enfrentar a pandemia com firmeza e seriedade, sendo o momento de acatar as orientações das autoridades e sobretudo da ciência, mas, é também o momento de colocar ideologias e diferenças de lado, exercitar nossa resiliência e, acima de tudo, praticar a solidariedade. Cada um pode fazer a diferença.
O isolamento social recomendado pelas autoridades de saúde e pela OMS é a chave para conter a proliferação do vírus. Cuide-se e cuide da sua família, proteja os idosos e mais frágeis, informe-se e não repasse mensagens que tenham por objetivo confundir ou minimizar a gravidade do problema. Aqueça sua fé, seja ela qual for, ore pelas autoridades para que tenham sabedoria, pelos que estão na linha de frente, principalmente os profissionais da saúde e pelos menos favorecidos, acredite, isso nos fortalece e renova as energias de todos.
E quando tudo isso passar, e vai passar, aí sim é hora de fazer os balanços, avaliar tudo o que foi feito e recomeçar, arregaçar as mangas e construir aquele barco onde todos possam estar verdadeiramente juntos. Repensar o formato de sociedade, valorizar e investir em pesquisa científica e combater diuturnamente as desigualdades sociais. Dom Irineu Danelon, Bispo da Pastoral da Sobriedade, dizia que “quando acreditamos que temos todas as respostas, a vida muda a pergunta”.
É isso que está acontecendo nesse momento. Apesar de todo conhecimento científico e recursos tecnológicos, percebemos que somos frágeis diante de fenômenos da natureza. Portanto, como responder a isso? É preciso repensar o estilo de vida, a forma como nos relacionamos com a natureza e com as pessoas. Nesse período de isolamento social, percebemos quão importante é a convivência, os encontros, os abraços. Acredito piamente que, quando tudo isso terminar, seremos pessoas melhores, mais preocupadas com os outros, mais generosas e solidárias.
Luiz Carlos Rossini
Vereador pelo PV e membro da Equipe Nacional da Pastoral da Sobriedade.